domingo, 24 de outubro de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Mais desenhos

Do you tube

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

sexta-feira, 30 de julho de 2010

como se le uma imagem

quando a gente aprende a ver? Aprender a ver e algo bem direcional. Nada tem a ver com a dialogica da leitura contemporanea de se permitir reconstruir o objeto, re-representa-lo, acrescentando novas formas criativas que o possibilitem ter novos usos.

o que e aprender a ver: aceitar codificacoes proprias de uma cultura. delinear formas que conectadas criam uma figura familiar a uma dada comunidade. assim, se escreve por imagens. e as le por palavras.

mas e antes? antes imagem era escritura e rudimentarmente foi sendo observada caracteristicas de um objeto/ser/entidade, que, aliado ao seu poder, sua forca, as mensagens que aquilo dizia, deixou se criar sua forma e, codifica-la - gerar icones, simbolos, alegorias.

de volta

cheguei junto a garoa que me fez lembrar da terra gostosa tao cheia de vida que eu deixara com tudo o que construi pois eu sonhava em...

estou de volta ao sertao de min'alma cativa de uma relva molhada, arranhada, crua, viva.

carrego comigo minha filha.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Laboratório Gráfico de Livro Infantil


TURMAS ABERTAS
10 AULAS
6 VAGAS
INSCRIÇÕES POR LABLIBRE@GMAIL.COM

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desatando nós

pés de uma menina princesa. riso largo. mãos que cantam. dança, pulo, dependurada. lá vai isadora dependurada na sua vida que nasce grande e gostosa. livros que abre com curiosidade. amigos que abraça. cara de levada. lá vai ela trepando arteira e devidamente criança.lá vai ela na escola, com meninos e meninas. lá vai a menina linda que desata nós, cria novos laços deliciosos de serem saboreados.

lá vai pra longe o choro franco de rito de passagem. a dor pontiaguda no peito. lá vem um carimbo cravado na palma da mão colorida de tinta: uma forma de coração.

isadora ama imensamente. e isso é lindo demais. ela observa e pontua comentários incríveis sobre os que estão a sua volta. ela já vê o outro em seus detalhes.

esta é a menina que descalça, com pés melados de lama, riso franco e gargalhadas abertas encara o mundo. de frente. protegida pelos que a amam. sem hesitar.

nossa pequena grande fada azul.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

última entrevista d eLObato - ouvindo sua voz

Mescla de linguagens no livro infantil

Há, portanto, no livro, uma mescla de linguagens: além do texto escrito, existe a sua linguagem visual que interage com a linguagem verbal. Essas linguagens, juntas, promovem um encantamento no leitor, que as transforma em atitudes cotidianas, e em consciência crítica.
(Renata Vilanova, 2005)

Há uma permissão de entrar no universo do discurso do ilustrador

Que universo de discurso é este, que é premiado, que é escolhido pela infância de hoje? Que infância é esta? E porquê da escolha? (Renata Vilanova, 2009)

O riscos e manchas atuam na interpretação

Atuam na semântica da ilustração, já é figura de linguagem, é qualitativa, dá qualidades ao texto, é proto-linguagem, se abre em significantes e potencialidades de sentidos. (Renata Vilanova, 2010)

PARADA OBRIGATÓRIA DO ILUSTRADOR

Tem que visitar o blog http://capaduraemcingapura.blogspot.com/

Graça Lima, Roger Mello e Mariana Massarani comentam, mostram imagens, viajam sobre ilustração, livro, criança, arte......................

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mais mural - se perdendo (ou se achando) em imagens


Outro mural, só que esse é de retalhos de trabalhos dos últimos tempos. Registros, bilhetes, desenhos, tempos, vazios, anúncios...................... enfim, pensamentos ("entulhamentos") gráficos.

mural lá de casa - cidade do Porto



Em 2000 fui artista residente dos Ateliers da Lada, quando Porto e Rotterdam eram capitais eutopéias de cultura. Aqui enfei uma colagem de retalhos do porto. cidade cinza, densa, triste, poética, embriagada. Às 3 da manhá respirava aquele Rio Douro pelas janelas escancaradas.

Feira de Bologna - altamente contemporânea... e caótica

Tatiana Belinky, que feliz ter ilustrado para ela!



No livro infantil... forma é a apresentação é como se conta uma estória que tem que ser esteticamente correta, bem contada e que prenda o conteúdo sem ... e,fundamental, senso de humor.

livros da gente que ganharam prêmios:

PNLD de São Paulo

2004


2005


2005


2010

Como começou Marina Colasanti

Luiz Camargo: o teatro e o livro infantil

Geração 70-80 de livros infantis e a nova geração (90-2000) - por Eva Furnari



trechos da entrevista de Eva Furnari:

"... Na ilustração de hoje..."

"... maneira de ilustrar que inclui computador... instrumento novo..."

"... maneira diferente de ilustrar: jovens que quando criança foram criados mais soltos..."

"crítica: muitas vezes a criatividade tem que ser acompanhada de estruturação - que vem com a maturidade."

"... [falta/para] fazer uma ilustração que ainda não esteja muito amarrada com o texto."

"... parecida com linguagem mais rápida..."

"... criança hoje em uma nova estética."

Livro de imagens digital - Angela Lago



Contribuição da bonita Angela Lago

O conteúdo no livro infantil, inspirado em idéias e percepções da sociedade contemporânea. Segundo ela, a criança se sente mais confortável em receber tais imagens do que o adulto.

"A CRIANÇA É AMPLA" - por Roger Mello



"Escrever pra criança é deixar que o texto de guie. É não pensar na coisa."

E agora José?

Não é que o clipe abaixo me lembrou algo...



Essa visualidade psicodélica registar bem uma época. Finais dos anos 60, e os anos 70. Muitas cores, curvas sinuosas, sobreposiçãod e imagens fechadas. Massas de cores tocando em massas cinzas.

Da série clipes ilustrados - sugestão da ilustradora Márjara

domingo, 4 de abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

ideologias, nas entrelinhas

Percebi que pertenço à música. Fui criada pela música. Me permitir participar de um imaginário brasileiro da década de 70.

Meu pai é músico. Nas horas vagas é cardiologista, rs.

Sua alma respira música. Sempre quis entendê-lo. Decifrar seus sentimentos misteriosos e densos. Ele os mostrava pra mim desde pequena, pela música.

Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano e Gil, Paulo Cezar Pinheiro, Braguinha, Adoniram Barbosa, muitos passaram pela sua viola. E por minha alma.

Quando meu avô lhe presenteou com um livro de músicas desde sempre barsileiras eu vez por outra, em casa, a tarde, roubava o livro para ler, reler, reidentificar e mergulhar nas ideologias escritas ali, nas entrelinhas.

Foi assim que virei mestre em entrelinhas. O que não era dito mas estava ali tão claro pra mim. Exercitei isto com a música.

terça-feira, 30 de março de 2010

pintar por palavras, escrever por imagens - Lobato à Rangel

Que critérios conhecemos para compreender a visualidade em um livro infantil? adequação ao público... O que isto significa? Que devemos conhecer a idéia de criança em determinada faixa etária e ilustrar para ela?

Tomemos Lobato como exemplo de pintura por palavras: não se preocupava absurdamente com a faixa etária e as palavras serviam para instigar várias classes de leitores. Brincava com o real e imaginário, as pontes entre fantasia e experiência vivida, dialogismos e passeios entre mundos. E porque o sucesso de seus livros? Ele lia cartas de seus leitores. Ele os colocava na história, ele se inspirava no que o outro dizia, o outro, aquele que continuará a história, seu leitor. Utilizava-se deveras de figuras de linguagem. Pintava.

Roger Mello - ilustrador da criança

Roger Mello escreve por imagens. Ele pensa com a criança. Ele pensa como criança. Ele habita de texturas, formas, massas, cores, de muita brasilidade. Ele deixa d elado o desenho belo para criar o sublime, o que não tem respostas, o que toca os sentidos. Aqui algumas imagens de Roger Mello:


quarta-feira, 24 de março de 2010

Emília, uma criança bem brasileira

Monteiro Lobato trouxe, por Emília, seu aspecto questionador, malcriado, debochado e independente. Por não possuir pai nem mãe, a boneca vai à luta. Muitas crianças, por contingência ou por fatores psicológicos ligados a independência emocional, se identificam com a liberdade da boneca.
A personagem, ao mesmo tempo em que é representação de uma identidade cultural brasileira, em movimento constante, é também uma personagem aberta, que possibilita várias interpretações e por isso muitas outras versões ilustradas, ou imaginadas pelo leitor. Personagem complexa, redonda, Emília esteve repleta de questionamentos e atitudes irreverentes, satíricas e críticas. Apesar de boneca, ela é a figura do Sítio que carrega maior humanidade. Para contrapor com a boneca e, dessa forma, destacá-la, Lobato amparou-se em personagens secundárias, planas, estereotipadas, que sustentaram suas densas falas, estas, representadas pelas atitudes de seus desenhos.
A visualidade da boneca foi sendo criada tanto pelo texto de Lobato, quanto pelas ilustrações que o acompanhavam. E cada ilustrador escolhido teve uma importância para ajudar a construir um imaginário de Emília. Os elementos visuais contribuíram para que se fixassem conteúdos verbais, pois a imagem toca sensivelmente o pequeno leitor.
A tímida bruxinha de pano se transformou em figura de extrema expressividade, com atitudes e temperamento em transformações, até ser representada por uma expressão visual assustada e desprotegida, compatível a um momento de cristalização de Lobato. Após essa cristalização e a obra conclusa do escritor, essa personagem foi novamente se construindo ludicamente, entre menina e boneca, aproximando-se cada vez mais do folclore brasileiro, dos mamulengos, dos retalhos, do colorido exuberante. E o seu riso sarcástico determinou uma personagem com um frescor poético, também representado pela imagem. Com isso, Emília foi se aproximando da essência da obra de Lobato, que carrega folclore, caricatura e ludicidade. Esse fenômeno se deve ao fato de que, certas convenções gráficas de Emília foram geradas pelo texto escrito e por imagens apresentadas ao público. Podemos entender que as ilustrações produzidas para representar Emília, de alguma maneira, ficaram na memória do ilustrador da geração seguinte, carregando mensagens visuais. As ilustrações potencializaram o caráter satírico do texto de Lobato, assim, as Emílias ilustradas atribuíram qualidades ao texto verbal e contribuíram para apresentar as mensagens sugeridas pelo escritor.
Emília foi representada nas histórias não apenas um contraponto de figura não-humana, mas com equivalente dimensão de Pinóquio: subvertendo, sugerindo abertura nas normas rígidas morais e imaginárias. Foi através dela que o escritor apresentou novos desafios à leitura, com idéias geniais, neologismos e até mentiras visivelmente descabidas. Moradora do Sítio do Picapau Amarelo, possível lugar do interior do Brasil, Emília atua, muitas vezes, como uma criança, que questiona, que erra, pergunta e tenta descobrir através da fantasia. Dessa maneira, a personagem promove um despertar do leitor para um Brasil da magia dos mamulengos, do folclore, da fada, do sonho e da consciência crítica.

terça-feira, 23 de março de 2010

Paraninfa do Curso de Design

Proponho uma reflexão. Do que é o design perante uma sociedade que questiona suas prioridades, com a escassez de recursos naturais, o individualismo exacerbado, a corrida para o sucesso.

E, o mais importante: qual é o papel dos novos designers nesta sociedade?

Sugiro que pensemos o Design como uma forma de fazer brilhar o olhar, não apenas de ser visto ou utilizado. Isto é, que vocês, designers que se formam hoje, gerem produtos, serviços, soluções não apenas gráficas e funcionais, mas que façam sentido, que ajudem a refletir sobre o uso das coisas. Se utilizem destas novas palavras da onda: reciclagem, reutilização, sustentabilidade, reaproveitamento, consumo consciente, lucro responsável, planejamento E, PRINCIPALMENTE, RESPEITO, para construir seus projetos.

Lá em sala parabenizei muitos de vocês por aprenderem a ouvir, pela organização, pelo brilho enquanto falavam de coisas que lhes são muito preciosas. Comecem por aí, não desistam nunca de acreditar em vocês, no que fazem e façam, corram atrás dos seus sonhos. Haverá de fato muita luta, algumas derrotas, escolhas, Mas façam de tudo isso um crescimento, aprendizado, valorizando vocês mesmos, e cada um que estiver na vida com vocês.

Gostaria de abraçá-los, então, sintam-se abraçados. Cuidem-se. Acreditem. Façam. Busquem conhecer sempre mais. O designer precisa do conhecimento agregado à prática, se um ficar longe do outro, os projetos perdem em vivacidade e contemporaneidade.

Gostaria de dizer mais, mas a festa é de vocês então, DIVIRTAM-SE!

Novamente meus parabéns, meu agradecimento por compartilhar de um momento único e inesquecível, minha vontade de estar ao alcance e a esperança... a certeza de que vocês serão multiplicadores de um Design consciente, social, responsável, planejado e prazeroso.

domingo, 21 de março de 2010

Design na Leitura - 1

Para quem é o livro? Livro ficcional? Livro científico? Estas são perguntas que o designer deve fazer ao iniciar um projeto de livro. Um livro ilustrado possui sua linguagem verbal e visual. Consideramos pertencente à linguagem verbal tudo aquilo que está escrito em palavras no livro. E definimos por linguagem visual elementos que, integrados, constroem a identidade visual de um livro. Referimos à diagramação; à fonte tipográfica escolhida e suas especificidades (tamanho, cor, espacejamento,...); às marcas incluídas no projeto; assim como as fotografias e ilustrações utilizadas; além do formato do livro, tipo de papel, material e textura; etc. Estes elementos não são escolhidos de forma aleatória. São incluídos num projeto, combinados de maneira integrada com a finalidade de fazer o consumidor, além de comprar o livro, lê-lo. Neste sentido, o responsável pela visualidade do livro tem como objetivo o de convidar o leitor à leitura e favorecer o prazer do texto(BARTHES, 2002). Este profissional, o designer, representará visualmente o que o discurso escrito propõe em suas figuras de linguagem e mensagens, aproximando o leitor da intenção do texto.

Ilustração e leitor

Tratar o livro como um parceiro no saber é atrair a atenção do leitor. Encantar este leitor e estimular sua sensibilidade, através de ilustrações e design, são caminhos para aproximá-lo do livro afetivamente. Este afeto contribui para depositar impressões sensíveis no leitor como aprendizado abrangente, múltiplo e polissêmico. A partir das interpretações, de vazios, encontra-se o papel do designer, ao depositar no livro possibilidades de sensações do prazer e fruição do texto(BARTHES, 20002)Para realmente fruir um texto, e pensá-lo como dialógico (o livro dá pistas ao leitor, mas é ele que retorna com intepretações e sua história), consideremos a importância da linguagem imagem-texto. Para o dialogismo de Baktin, a construção dos novos sentidos é feita a partir das diferentes mesclagens entre vozes - a polifonia, ou seja, há um “trançar de fios” de diferentes cores para formar um tecido com uma “nova cor”. O livro é um objeto, com tridimensionalidade, materialidade e poder transcendente.
Este livro carrega um texto de literatura, uma narrativa fantasiosa. Portanto ele deve conter a sedução e o desejo, inerentes ao ser humano. Nele, a ilustração enriquece a narrativa, e provoca leituras paralelas. Ela passa atrair a atenção do leitor, movimenta sua curiosidade, o faz viajar por um dos paraísos perdidos nos sonhos. Nenhum objeto funciona sem relacioná-lo com outros. O ponto crucial é o processo, a relação, o motivo para tal objeto existir. O livro existe porque existe sua procura, a narrativa fantasiosa existe pelo mesmo motivo: a busca pelo conhecimento. Neste sentido, existe o leitor. Aquele que procura conhecimento e que sente na leitura a possibilidade de deixar a imaginação fluir para o que não é explícito e está nas interpretações. Este leitor se permite ficar pairando nas relações, no processo e nas figuras de linguagem, proporcionando a descoberta do fantástico e lúdico. Uma obra completa a outra. A imagem completa o texto; o leitor completa o livro.

O papel lúdico da ilustração - em Waking Life

Por não conter o status de Língua, como a palavra altamente codificada, a ilustração possui uma linguagem ainda em construção, por isso possibilita uma adesão do espectador sem que ele a decifre logo de início. Há, na construção do texto estético, muito além do que se quer dizer, a tensão do ponto, o incompleto da curva a expressividade do traço. Neste caso, a imagem somente se dá no ato de leitura. O processo da leitura promove uma sensação de pertencimento ao texto, uma conexão ao que está sendo lido. As imagens estão para representar idéias, que existem para se ligarem a outras e fazerem pensar criativamente e criticamente. Segundo Umberto Eco, o texto estético é um exemplo de criação. Para mim é criação não pretende definir conceitos, apenas os apresenta. É pela experiência da leitura que a arte se expressa: formas, cores, estruturas lúdicas,trazendo um conteúdo que está presente, que se vê, embora muitas vezes não consigamos explicá-lo. A imagem estimula sensações. Sensações que às vezes não requisitam significados para serem compreendidas. Muitas delas são metáforas. Freud acreditava que metáfora servia por ainda não existir uma palavra para definir o objeto em questão, que faz parte de um processo de evolução e por um tempo se torna necessária. Acredito que há mais na metáfora, ela serve para estimular o que é obscuro. A sensibilidade, os sentidos. Ora, se fôssemos apenas racionais, repletos de respostas para tudo, não precisaríamos nos preocupar com essa sensação de incompletude individual e sentimento de coletividade. Waking Life, por exemplo, comunica visualmente, conta e narra através de ilustrações (animações) lúdicas. O prazer, outro aspecto fundamental da obra em questão – o prazer é sentimento próprio do ser humano que se expõe através do riso – uma das formas básicas de sensação,um dos primeiros movimentos do bebê quando nasce – prazer e riso são intrínsecos ao homem – o humor. É necessário para o seu bem estar. Com ele há um extasiamento, um desprendimento das regras impostas por dominação seja social ou cultural. Waking Life se utiliza de imagens cheias de riso, prazer e ironia. As imagens passam do belo ao grotesco com uma naturalidade próprias da banalização da violência. As personagens são transeuntes dissertando sobre os assuntos mais filosóficos com a maior da naturalidade e em clima onírico. O espaço flutua, indefine e modifica. Podemos comparar a proposta do filme ao que Alain Resnais, no Noveau Romance defende com histórias oníricas onde palavra passa a significar imagem e imagem significar palavra. Interpretamos o sonho como intenção de se aproximar da realidade, da construção. É o fantástico abaixo da superfície do realismo – que o sustenta, que o estrutura. Estamos falando do alicerce; do que poderia se chamar de estrutura ausente por Umberto Eco, do que não se vê, das metáforas, da ponte que o texto literário traz para narrar uma imagem e que o texto estético traz para narrar uma história. A intenção do filme é de comunicar algo. O tempo é atual e os diálogos próximos ao cotidiano. Visto ser um filme repleto de diálogos na imagem, podemos considerar de narrativa visual marcante. Porque a ilustração indefinida? As animações oníricas e difusas, o sonho para justificar uma busca? Agora podemos entender que o que o filme quer passar é o processo, o caminho, a vida acordando. Mas porque não fotogramas? Imagens reais? Por que ao definir todo o processo de apreensão, podemos estar reduzindo um processo em um significado apenas, quando este tenta definir os códigos. Essa tentativa de abrir um pouco a interpretação, com traços lúdicos, figura e fundo que de fundem, se completam e indefinem possibilitam interpretações próprias por cada espectador – estão mais próximas do lúdico, do fantasiosos, ou seja, do processo de semiose. O conteúdo da mensagem se torna mais flexível, pois cada indivíduo faz analogias com o que já conhece para identificar informações sugeridas no texto visual: a figura não está ali pronta, está sendo construída. Se definirmos todos os signos visual criaremos uma realidade imposta, uma matrix, uma virtualidade – ou visualidade irreal, pois só pode existir a representação se houver leitura. Com a leitura estética, o leitor pode optar por descansar do processo de leitura e contemplar a criação, o que chamaria Hjemeslev de material amorfo, daquilo que está ali como matériaprima pronto para usarmos nas combinações, a ponte para gerar significaods a partir do repertóriod e cada um.
A Arte no campo da Estética está para simplificar o momento, assumir a incompletude e assim poder se completar – retira-nos do momento temporal e ‘atempora’ a experiência. Um prazer que transcende o tempo porque não precisa nem dele nem do contexto para significar nada. Está ali, sendo sentido. Em alguns momentos no filme há também as imagens esquemáticas, que servem para fechar a imaginação e definir exatamente o que quer ser dito, diferem do papel da ilustração. Para essa definição de que esquema significa um símbolo, fechado, que também situa o leitor em uma dada sociedade codificada. O filme Waking Life traz questões profundas, filosóficas e essa maneira de representar a imagem é bastante feliz para reportar ao sonho, ao espaço que transcende.

Olhares de um ilustrador de conto de fadas

Gustave Doré, 1861
Na ilustração, os traços de Gustave Doré (1832 – 1883), ilustrador de contos de fadas, promovem uma ilustração com preocupação visual e movimento visivelmente expressivo. O livro tem altura próxima das personagens, o que sugere que essas criaturas pertencem a ele. Caso tomássemos esse livro para leitura, poderíamos supor que estas personagens saíram da história. Elas, em sua maioria, estão direcionadas para frente, o Gato de Botas aponta para uma direção e, utilizando o livro como guia, elas seguem o percurso.
Na ilustração, o peso das sombras no limite entre as personagens e o livro, representa fendas e dobras . Tomamos como fendas e dobras, elementos que funcionam como tangentes da linguagem. A primeira representa espaços vazios a serem preenchidos pelo leitor, a segunda, alimenta a imaginação do leitor, que sugere o que está velado. Nesse caso, as margens poderiam ser o que o desenho pretende representar (a figura) e o próprio ato de desenhar (de produzir a representação). Um ponto de tensão entre a forma e o gesto. Na figura, as fendas entre cada personagem, denotam uma densidade da obra, que provocam um prazer. Os pontos de maior prazer da ilustração estão nas bordas, nas junções de linhas e sombras e nas dobras formais.
Rolland Barthes, pelo viés da recepção, descreveu o prazer textual aproximando-o do prazer sensual, erótico. Essa descrição elucida o sentimento de descobrimento, proporcionado pela leitura.
O lugar mais erótico do corpo não é lá onde o vestuário se entreabre? Na perversão (que é o regime do prazer textual) não há ‘zonas erógenas’ (expressão, aliás, bastante importuna); é a intermitência, como o disse muito bem a psicanálise, que é erótica: a da pele que cintila entre duas peças (as calças e a malha), entre duas bordas (a camisa entreaberta, a luva e a manga); é essa cintilação mesma que seduz, ou ainda: a encenação de um aparecimento-desaparecimento. (BARTHES, 2002 : 15 e 16)
Podemos fazer uma analogia entre este momento de leitura e o instante em que o ser amado não é mais e continua sendo, e se liga ao seu amor numa mistura de perda e prazer, que provocará a dor jubilosa na descoberta, como na “pequena morte” para os franceses, quando o conhecimento passa a transformar a vida.
(...) Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce. (GALEANO, 2001: 95)
Essa ruptura que extravasa os sentidos está na jouissance, que para Barthes denomina como gozo, posse, usufruto, fruição. É o momento de “brio do texto”: “lá onde precisamente ele excede a procura, ultrapassa a tagarelice e através do qual tenta transbordar, forçar o embargo dos adjetivos – que são essas portas da linguagem por onde o ideológico e o imaginário penetram em grandes ondas”. (BARTHES, 2002 : 20)
Entre as personagens convive o orgânico, o entrelaçar de linhas e curvas, o irregular da força do lápis no papel. Em contrapartida, há uma harmonia nas folhas do livro, que tombam com maestria, indicadas por linhas uniformes que, quase em silêncio, fazem abrir o livro, proporcionando uma nova fenda, instigando a curiosidade do leitor a percorrer esse espaço e participar do livro.
Esse processo de descobrimento ocorre no ato da leitura, em uma ida e vinda em que o texto se confunde com a experiência prévia do leitor. Neste sentido, o leitor “ajuda o texto a funcionar”, a intenção do autor e a do leitor se sobrepõe de forma a ocasionar uma cooperação textual. (ECO, 2002b : 37) Um mesmo livro, lido por leitores diferentes, transforma-se em textos diferentes, ou seja, a leitura pode ser vista como uma experiência única, proporcionando conhecimentos e sensações singulares.
Nesse caso, assim como a narrativa verbal, uma ilustração também narra, e ela pode se tornar uma linguagem complementar, suplementar ou paralela ao texto escrito.

Uma ilustração de livro pergunta a um leitor:


“Caro leitor, só existo quando você me olha, me tateia, me invade. Quando você destrincha meus riscos e manchas, meus poros, vazios, fendas e preenchimentos. Eu existo leitor, quando você se lembra ao ver-me. Quando você resgata uma experiência vivida apenas por olhar pra mim. Como um cheiro que remete um acontecimento e nos transporta às memórias experimentadas, eu quero ser pra você. Sim, você vai dizer que trabalho um outro sentido, a visão. Mas o que quero ser pra você é mais do que isso, é a lembrança da aspereza das coisas, ou sua leveza, ou ainda o gosto azedo, o sentir quente ou o frio, o barulho do farfalhar das folhas por conta do vento arisco. E por isso, leitor, te pergunto: o que sou pra você? O que você vê quando me olha, me toca, me acaricia? Eu te conto alguma coisa? Você se vê em mim? Onde você estaria? Seria que personagem, ou coisa, ou ambiente? Quem é você, leitor, e o que eu sou pra você?” (ilustração de livro, 2009)

Nelly Coelho e a imagem no livro infantil

‘(...) Resumindo o valor psicológico / pedagógico /estético / emocional da linguagem imagem-texto no livro infantil, temos:
Estimula o olhar, como agente principal, na estruturação do mundo interior da criança, em relação ao mundo exterior que ela está descobrindo.
Estimula a atenção visual e o desenvolvimento da capacidade de percepção.
Facilita a comunicação entre a criança e a situação proposta pela narrativa, pois permite a concepção imediata e global do que vê.
Concretiza relações abstratas que, só através da palavra, a mente infantil teria dificuldade em perceber; e contribui para o desenvolvimento da capacidade da criança à seleção, organização abstração e síntese dos elementos que compõe o todo.
Pela força com que toca a sensibilidade da criança, permite que se fixem, de maneira significativa e durável, sensações ou impressões que a leitura deve transmitir. Se elaborada com arte ou inteligência, a imagem aprofunda o poder mágico da palavra e facilita à criança o convívio familiar com o universo dos livros lhe desvendam.
Estimula e enriquece a imaginação infantil e ativa a potencialidade criadora, natural em todo ser humano e que, muitas vezes, permanece latente durante toda a existência, por falta de estímulo.’
(COELHO, 1997)

A imagem em um tipo determinado de impresso: o livro infantil.


No livro infantil a preocupação com a visualidade é imprescindível. Qual o grau de alfabetização do leitor? Como vem se constituindo o seu letramento? Com que imagens (ilustrações, tipografias etc) ele já é capaz de dialogar? Estas são questões indispensáveis ao designer quando pretende projetar um livro para crianças. Incentivando a educação através da leitura de imagens, o designer pode aproximar o livro do pequeno leitor, e convidá-lo a iniciar uma complexa produção de sentidos, tanto da palavra, quanto da imagem. Esse leitor, criança que está descobrindo muitas informações a respeito do universo que a rodeia, é sincero em sua interpretação e curiosidade, e exigente, pois se um livro não lhe agradar , ele não o lê.
A linguagem visual é uma linguagem, e não uma língua. Portanto, ela tem uma liberdade de percepção maior do que todas as normatizações e códigos complexos de uma língua. O projeto gráfico (incluindo ilustração, tipografia, diagramação e produção gráfica), neste caso, toma o compromisso de ativar potencialidades criadoras da mente infantil, através de imagens lúdicas que representem, não de maneira óbvia, mensagens apresentadas pelo verbo. Por este viés, a iconicidade de um livro não é mais estudada separadamente de seu texto, mas em uma relação fabular-icônica, de interdependência. Não se trata de estudar pedaços ou todos de uma imagem que irão ser fiéis ao texto e legíveis ao leitor, mas se trata de perceber estas imagens como parte da leitura, em co-autoria, acrescentando, sobrepondo, enriquecendo e aproximando através de relações concretas a história contada. As ilustrações trazem imagens muitas vezes já conhecidas do repertório de visão do pequeno leitor, imagens estas que contribuem para incentivar e aprimorar as relações de alfabetização e letramento. Por esse viés, encontramos importância substancial no ilustrador e designer de livros que, ao trazer mensagens visuais para a história escrita, passa a contá-la de maneira lúdica, incitando a curiosidade pela leitura do texto. (LIMA, 2005)

terça-feira, 2 de março de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Workshop de Design e Ilustração de Livro Infantil, quem quer?

Ministrei durante 3 anos, 6 workshops na Creamcrackers Studio em que cada aluno desenvolveu um projeto gráfico pessoal de livro infantil. A Sandra Ronca saiu dali e seu livro foi publicado! Outros ingressaram em cursos na Europa, com o projeto debaixo do braço :)

Vamos embora! Quem topa mais um? Eu topo.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Livros infantis de minha autoria




Carolina e Astralux


Eu e Tatiana Belinky, alguns livros...








árvore do conhecimento

Escrito por Carlos Eduardo Leal,
livro que me apaixonei para ilustrar.
Tinha que ilustrar.
Fala da vida.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

Quintal de Sonhos


Ilustração no livro infantil

A ilustração no livro infanto juvenil nos aproxima de um sentimento por fazer. A sensação que tenho é que a criança curte o pertencer a tal imagem.

Uma imagem, por favor

A imagem para mim é algo além de um simples passar o olhar. Ela carrega memória, sentidos, sensações. Depois que registramos algo que vimos, aquilo passa a fazer parte de nós, isto é, o que afirmo é que a imagem é texto. E, portanto, impregnada de mensagens.

Hoje, em mundo encharcado de imagens, em fast world, aparentemente apenas passamos por elas, despretenciosamente. O que acredito é que elas ficam, mesmo que em algum lugar obscuro de nossa existência, mesmo que guardadas junto aos nossos restos.

Portanto, ao acreditarmos em um mundo lógico, em que números e palavras imperam, estamos esquecendo da nossa escrita lúdica visual: tais rabiscos, que fazem parte de nossas conexões com o mundo. Isto é, o mundo é também construído por traços, riscos, manchas, cores, que se combinam.

A nossa escritura primeira, de infância, é vista como uma passagem para o universo da palavra. Sim, por um lado é verdade. Mas ela vai além, porque ela é figura de linguagem: quando nos falta a palavra, há uma imagem para representar o que sentimos. Quando não sabemos o que dizer, podemos desenhar, recriar, ou até utilizar a Emília em um de seus neologismos.

Quando, alfabetizados, achamos não precisar mais de livros com imagens porque eles nos ajudavam a ler, estamos descartando uma autoria também repleta de sentidos e mensagens, que corre paralela ao texto verbal, e que tem águas próprias.